
Canabidiol contra esquizofrenia: o que se sabe até agora?
Postado por Dr. Pedro Alvarenga
O uso do canabidiol contra esquizofrenia é uma das condições médicas que têm apresentado resultados cada vez mais promissores. Seja pelo seu efeito antipsicótico ou pelo bom perfil de tolerabilidade.
Apesar disso, os produtos à base de Cannabis ainda enfrentam um grande desafio para sua prescrição, muito ainda pelos estigmas sociais e resultados com o uso recreativo da planta.
Contudo, em um contexto de uso medicinal e científico, o uso do CBD pode trazer benefícios terapêuticos para o tratamento de transtornos mentais graves. Proporcionando assim, alívio dos sintomas e uma melhora na qualidade de vida.
Quer entender melhor como isso é possível? Acompanhe a leitura e descubra tudo que se sabe sobre o uso do canabidiol contra esquizofrenia.
Há evidências do uso de canabidiol contra esquizofrenia?
A primeira evidência sobre o uso do canabidiol contra esquizofrenia surgiu em 1982, quando um estudo sobre as interações entre o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) em voluntários normais e saudáveis apontou propriedades antipsicóticas no CBD.
Na ocasião, pesquisadores constataram que a substância mais abundante e estudada da Cannabis é capaz de bloquear a ansiedade e demais sintomas psicóticos provocados pelo próprio delta 9-THC no organismo.
Dessa forma, novos estudos clínicos a respeito do uso do canabidiol para o tratamento de doenças mentais puderam evoluir. Entenda:
O que dizem os estudos sobre canabidiol e esquizofrenia?
Evidências clínicas encontradas em animais e humanos indicam que o canabidiol pode representar um novo tratamento para a esquizofrenia. Assim, cabe aos pesquisadores avaliarem a segurança e eficácia da substância em pacientes que sofrem com a doença.
Partindo de análises pré-clínicas, feitas em modelos animais susceptíveis a alterações de comportamento, o canabidiol se mostrou capaz de reduzir comportamentos cognitivos e positivos da patologia.
Além disso, estudos evidenciaram que o CBD pode atuar como modulador hipocampal de glutamato, um neurotransmissor fundamental que atua na cognição, memória e no mecanismo de algumas doenças neurodegenerativas.
Em ensaio duplo-cego conduzido com pacientes esquizofrênicos, dois grupos randomizados foram definidos: um deles recebeu o CBD e o outro grupo placebo, mantendo as demais medicações de uso habitual.
Após seis semanas de intervenção, no comparativo, aqueles que usaram o canabidiol contra esquizofrenia apresentaram níveis mais baixos de sintomas psicóticos positivos. Assim como o uso bem tolerado e baixos efeitos adversos.
Os resultados foram avaliados antes e após o tratamento, usando a Escala de Síndrome Positiva e Negativa (PANSS), a Avaliação Breve da Cognição na Esquizofrenia (BACS), a Escala de Avaliação Global de Funcionamento (GAF) e as escalas de melhora e gravidade das Impressões Clínicas Globais Escala (CGI-I e CGI-S) como referência.
Outro estudo realizado publicado na Frontiers in Molecular Neuroscience, reforça a hipótese ao concluir que o CBD possui efeitos similares a outros fármacos normalmente utilizados para o tratamento da doença, mas com mecanismo de ação distinto, evidenciando o potencial do canabidiol contra a esquizofrenia.
A publicação também aponta que os compostos da Cannabis cancelaram os efeitos da substância que danifica a bainha de mielina, que prejudica a transmissão dos impulsos nervosos, sendo uma das prováveis causas do transtorno.

Cannabis como fator de risco para esquizofrenia
Sabe-se que o uso recreativo da Cannabis por indivíduos predispostos pode ocasionar diversos transtornos psiquiátricos, além de dependência e déficits intelectuais.
Fazendo com que a planta fosse considerada um fator de risco para esquizofrenia para pessoas com vulnerabilidade genética ou psicossocial.
No entanto, é preciso ponderar que a Cannabis não é a causa para o desenvolvimento da doença, conforme evidenciado no artigo publicado no Brazilian Journal of Psychiatry.
Segundo a publicação, “a maior parte das pessoas que usam Cannabis não desenvolve esquizofrenia e muitas pessoas diagnosticadas com esquizofrenia nunca utilizaram Cannabis”.
Além disso, em 2010, outro estudo confirmou o potencial antipsicótico do canabidiol para a população em geral, incluindo pacientes com transtornos psiquiátricos existentes. A pesquisa afirmou que os “dados são consistentes com um potencial terapêutico do CBD na melhora das consequências psiquiátricas” para ambos os perfis.
Um breve resumo sobre a esquizofrenia
A esquizofrenia é um transtorno mental crônico que atinge cerca de 21 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, este número chega a dois milhões de pacientes.
Caracterizada por crises psicóticas e incapacitantes, com alterações no pensamento, emoções e comportamento, quem sofre deste transtorno costuma viver em uma ‘realidade paralela’, com dissociação do que é real ou imaginário.
É comum que pacientes esquizofrênicos tenham alucinações visuais e auditivas, delírios, comportamento e reações anormais, distúrbios do pensamento e emoções, além de uma piora da cognição.
Tais sintomas podem impactar a vida pessoal, profissional e o relacionamento interpessoal no dia a dia do indivíduo.
Até então, a medicina não sabe precisar as causas exatas e o que acontece no cérebro de quem sofre deste distúrbio, sendo um grande mistério por trás da esquizofrenia.
Quais os sintomas da esquizofrenia?
A esquizofrenia pode se manifestar de diversas maneiras, seja de forma súbita ou gradual, com alterações de comportamento que evoluem durante dias a anos.
Os familiares e amigos mais próximos, normalmente, são os primeiros a notarem os sinais iniciais no comportamento, ao perceberem a pessoa mais afastada, confusa e desconfiada. No geral, os principais sintomas da esquizofrenia são:
- Delírios (mania de perseguição, traição, super poderes, etc);
- alucinações como ouvir vozes e ter visões;
- pensamento desorganizado;
- movimentos descoordenados e involuntários;
- surtos psicóticos, agressividade, agitação e risco de sucídio;
- falta de atenção e concentração;
- alterações na memória e dificuldades no aprendizado;
- perda da capacidade de expressar sentimentos;
- apatia;
- perda de vontade ou iniciativa;
- isolamento social; e
- falta de autocuidado.
Por sua vez, o tratamento da esquizofrenia é focado em aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida da pessoa.
Para isso, o médico responsável pode recomendar medicamentos antipsicóticos, assim como psicoterapia e técnicas comportamentais para ajudar na reabilitação e integração social.
É possível contar com o canabidiol no tratamento?

As evidências na abordagem do canabidiol contra esquizofrenia são bastante animadoras, visto as dificuldades diante a farmacoterapia convencional em relação à doença.
Isso significa que um contexto eficaz na prescrição do CBD pode trazer benefícios terapêuticos em patologias graves, limitantes e de tratamento desafiador, como a esquizofrenia.
Dessa forma, a Cannabis para fim medicinal destaca-se como uma alternativa promissora e segura de tratamento, considerando a eficácia e os baixos efeitos adversos no organismo, sendo uma solução para quem sofre com a doença.
Caso você tenha interesse em iniciar o tratamento com o canabidiol no Brasil, o primeiro passo é consultar e conversar com o médico responsável. Ele avaliará a indicação, assim como a titulação da dosagem ideal e o produto adequado para cada caso.
Atualmente, além da prescrição médica por profissionais legalmente habilitados, é preciso solicitar uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação do produto.
Deu para entender o potencial do canabidiol contra esquizofrenia? Os resultados estão sendo cada vez mais promissores e, por isso, é importante ficar por dentro do assunto, buscando informações confiáveis e atualizadas.
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COMO IMPORTAR CBD NO BRASIL?Referências
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