Canabidiol e Esclerose múltipla: uma possibilidade de tratamento

Canabidiol e Esclerose múltipla: uma possibilidade de tratamento

Postado por Dr. Pedro Alvarenga

O uso do canabidiol na esclerose múltipla vem consolidando-se como uma alternativa para auxiliar no tratamento e melhorar a qualidade de vida de quem sofre com a doença. 

A esclerose múltipla é uma patologia inflamatória crônica autoimune que afeta o sistema nervoso. É considerada uma doença rara, afetando cerca de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, estima-se que 40 mil brasileiros sofrem com a doença. Por se tratar de uma condição autoimune, não existe cura e os pacientes com esse diagnóstico precisam conviver com o controle dos sintomas. Mas será que o produto de Cannabis pode ajudar?

Acompanhe a leitura e entenda como o canabidiol age na esclerose múltipla e o seu potencial terapêutico no tratamento. 

Qual o potencial do canabidiol na esclerose múltipla?

Lidar com os sintomas da esclerose múltipla (EM), que incluem a fadiga, espasmos, alterações de humor, entre outros, é um dos maiores desafios para os pacientes. Afinal, a progressão da doença pode ser incapacitante e prejudicar até mesmo as atividades diárias.

Por conta dos efeitos colaterais gerados pelo tratamento convencional, as substâncias da Cannabis ganham visibilidade pelo alto potencial terapêutico para amenizar os sintomas. Principalmente por conta dos seus efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e relaxantes demonstrados em outras condições.

Uma metanálise publicada no periódico JAMA avaliou a eficácia e tolerabilidade dos canabinoides em comparação com placebo no tratamento sintomático de pacientes com EM. Os resultados mostraram diferenças estatisticamente significativas a favor do grupo com uso medicinal da Cannabis. 

Por sua vez, a literatura científica tem validado os benefícios do uso do canabidiol na esclerose múltipla, tanto do uso do CBD isolado quanto dos extratos completos com combinação THC/CBD. Entre as quais podemos destacar a abordagem na dor, inflamação e espasticidade/rigidez muscular.

Inflamação dos neurônios

O maior problema para as pessoas com esclerose múltipla é a inflamação dos neurônios e da medula espinhal. Com isso, os produtos de Cannabis podem trazer benefícios devido a sua ação anti-inflamatória no organismo.

Pesquisadores apontaram que o canabidiol diminui a ação dos agentes inflamatórios envolvidos nesse quadro clínico. Além de ativar as células microgliais, responsáveis por buscar neurônios que estão morrendo e devem ser eliminados, encontradas em abundância no cérebro humano.

O resultado é uma neutralização do sistema imunológico e redução na neuroinflamação que leva a destruição da mielina, principal causa da progressão da esclerose múltipla.

Sensações de dor

A dor na esclerose múltipla é uma das principais queixas dos pacientes, e o uso medicinal da Cannabis é capaz de amenizá-la diante do seu potencial analgésico. 

Por meio do Sistema Endocanabinoide, tanto o CBD quanto o THC são capazes de regular as sensações de dor. Isso acontece, porque os canabinoides ligam-se aos receptores que regulam o sistema nervoso central e os neurotransmissores, influenciando positivamente nos níveis de dor.

estudos que mostram o CBD como um importante aliado contra diversos tipos de dor, como as neuropáticas e associada ao câncer. 

Mão de médico segurando óleo de cannabis com pipeta. Imagem ilustrativa texto canabidiol esclerose múltipla
O uso do canabidiol para esclerose múltipla pode ajudar a amenizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Espasticidade muscular

Outro sintoma que pode afetar quem é diagnosticado com EM é a espasticidade muscular, que se caracteriza pelo aumento involuntário da contração muscular. Essa é uma condição incapacitante que afeta grande parte dos pacientes portadores da doença.

Além de contrações e espasmos involuntários, ela causa dificuldade em dobrar as pernas ou braços, dor nos músculos afetados e deformações nas articulações. 

Diante disso, cada vez mais, são encontrados indicativos de que o uso dos canabinoides e a espasticidade têm relação. Evidências apontam que a combinação do THC com o CBD é capaz de ajudar a relaxar a musculatura, tendo efeito em reduzir o sintoma. 

Um estudo realizado pela Universidade de Plymouth demonstrou que a Cannabis é duas vezes mais efetiva contra a espasticidade muscular do que o placebo. 

Enquanto uma metanálise de uma série de ensaios clínicos demonstrou que, no geral, as substâncias da planta são bem toleradas e oferecem melhora dos sintomas. Inclusive em pacientes que não conseguiam encontrar alívio com medicamentos anticonvulsivantes convencionais.

Outros benefícios do canabidiol

Muitos pacientes apresentam outras manifestações da doença, como insônia e ansiedade, onde estudos não direcionados especificamente aos pacientes portadores de EM mostraram benefício nos extratos da Cannabis.

Em outra pesquisa realizada com pacientes que usam o canabidiol para esclerose múltipla constatou que uma proporção significativa interrompeu ou reduziu as medicações previamente em uso. Como opioides, benzodiazepínicos, relaxantes musculares e outros medicamentos para dor.

Dessa forma, podemos concluir que o produto de Cannabis, além de um importante aliado para reduzir os sintomas coadjuvantes da doença, proporciona uma melhor qualidade de vida ao paciente. Se apresentando ainda como uma terapia segura, com baixo perfil de toxicidade e poucos efeitos adversos. 

A ação da esclerose múltipla no organismo

A esclerose múltipla é uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a bainha de mielina (estrutura de tecido adiposo), responsável por envolver os neurônios, comprometendo as funções do sistema nervoso. 

Isso acontece, pois sem a mielina, os neurônios têm dificuldade em transmitir e captar mensagens entre o sistema nervoso central e o resto do corpo. 

Esta degeneração do tecido neuronal, por sua vez, leva a uma cicatrização com formação de tecido conjuntivo fibroso (esclerose), onde o tecido saudável é, ao longo do curso da doença, substituído por tecido não neuronal. 

Provocando, assim, lesões neurológicas que induzem uma série de sintomas, como fadiga, perda de equilíbrio e coordenação motora, espasmos e disfunção urinária, entre outros. 

As causas da esclerose múltipla não são conhecidas. Diversas hipóteses são relacionadas ao desenvolvimento da patologia, sendo influenciada pela predisposição genética associada a fatores ambientais (estilo de vida, infecções virais, etc) que originariam uma disfunção no sistema imunológico. 

Ainda não há cura para a esclerose múltipla. Por isso, os tratamentos são indicados para melhorar os sintomas e reduzir os períodos de exacerbação da doença, chamados de “surtos”. 

Imagem ilustrativa sobre a legislação e justiça do Brasil, usando documentos de papel, caneta, malhete e bandeira do Brasil. Texto canabidiol esclerose múltipla
Há um movimento crescente acerca da flexibilização e regulamentação do uso medicinal de produtos à base de Cannabis no Brasil.

CBD no Brasil é permitido desde 2015

A permissão para o uso medicinal da Cannabis no Brasil ocorreu em 2015, quando o canabidiol (CBD) foi retirado da lista de substâncias proibidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo reclassificado na lista de substâncias controladas. 

Esta foi a primeira vez que os efeitos terapêuticos de uma substância da Cannabis foram reconhecidos oficialmente pela agência no país.

De lá pra cá, houve um aumento exponencial na quantidade de autorizações para importação dos produtos à base de Cannabis. Segundo dados da Anvisa, em 2015 houveram cerca de 800 solicitações de importação, contra mais de 33 mil em 2021. 

O que diz a legislação? 

Ainda em 2015, a Anvisa definiu os critérios e procedimentos para a importação desses produtos, em caráter de excepcionalidade, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 17.

Com o intuito de facilitar a importação reduzindo os requisitos e prazos de análise das solicitações, a RDC 17 foi atualizada e revogada pela RDC 335 em 2020 e, mais tarde, ainda houve uma junção com a RDC 570

Atualmente, a operação de importados acontece sob as normas da RDC 660/2022, que autoriza a importação de produto derivado de Cannabis, por pessoa física, para uso próprio, para tratamento de saúde. 

Desta forma, além da prescrição médica por profissionais legalmente habilitados, é preciso solicitar uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação do produto.

Como podemos ver, a flexibilização e regulamentação tem avançado no país, permitindo opções de tratamento com a Cannabis para diversas doenças e condições de saúde. Ainda assim, é preciso seguir investindo em pesquisas e educação médica e científica. 

É importante destacar que o uso de produtos de Cannabis no Brasil só estão autorizados mediante prescrição médica. Caso precise de ajuda, a Ease Labs conta com um atendimento especializado que pode auxiliar você em todo processo necessário para ter acesso ao produto do seu tratamento. 

Neste artigo, você conheceu um pouco mais sobre o canabidiol e esclerose múltipla como uma nova possibilidade de tratamento. Quer saber mais sobre o assunto? Acompanhe nosso blog e redes sociais, e mantenha-se informado. 

Referências

Torres-Moreno MC, Papaseit E, Torrens M, Farré M. Assessment of Efficacy and Tolerability of Medicinal Cannabinoids in Patients With Multiple Sclerosis: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Netw Open. 2018;1(6):e183485. doi:10.1001/jamanetworkopen.2018.3485 

Nielsen, S., Germanos, R., Weier, M., Pollard, J., Degenhardt, L., Hall, W., Buckley, N., & Farrell, M. (2018). The Use of Cannabis and Cannabinoids in Treating Symptoms of Multiple Sclerosis: a Systematic Review of Reviews. Current neurology and neuroscience reports, 18(2), 8. https://doi.org/10.1007/s11910-018-0814-x 

Kozela, E., Lev, N., Kaushansky, N., Eilam, R., Rimmerman, N., Levy, R., Ben-Nun, A., Juknat, A., & Vogel, Z. (2011). Cannabidiol inhibits pathogenic T cells, decreases spinal microglial activation and ameliorates multiple sclerosis-like disease in C57BL/6 mice. British journal of pharmacology, 163(7), 1507–1519. https://doi.org/10.1111/j.1476-5381.2011.01379.x 

Notcutt, W., Langford, R., Davies, P., Ratcliffe, S., & Potts, R. (2012). A placebo-controlled, parallel-group, randomized withdrawal study of subjects with symptoms of spasticity due to multiple sclerosis who are receiving long-term Sativex® (nabiximols). Multiple sclerosis (Houndmills, Basingstoke, England), 18(2), 219–228. https://doi.org/10.1177/1352458511419700 

Lee, G., Grovey, B., Furnish, T. et al. Medical Cannabis for Neuropathic Pain. Curr Pain Headache Rep 22, 8 (2018). https://doi.org/10.1007/s11916-018-0658-8 

John Zajicek, Susan Ball, David Wright, Jane Vickery, Andrew Nunn, David Miller, Mayam Gomez Cano, David McManus, Sharukh Mallik, Jeremy Hobart. Effect of dronabinol on progression in progressive multiple sclerosis (CUPID): a randomised, placebo-controlled trial. DOI:https://doi.org/10.1016/S1474-4422(13)70159-5 

Leussink VI, Husseini L, Warnke C, Broussalis E, Hartung HP, Kieseier BC. Symptomatic therapy in multiple sclerosis: the role of cannabinoids in treating spasticity. Ther Adv Neurol Disord. 2012 Sep;5(5):255-66. doi: 10.1177/1756285612453972. PMID: 22973422; PMCID: PMC3437528. 

Guarnaccia, J. B., Khan, A., Ayettey, R., Treu, J. A., Comerford, B., & Njike, V. Y. (2021). Patterns of Medical Cannabis Use among Patients Diagnosed with Multiple Sclerosis. Multiple sclerosis and related disorders, 50, 102830. https://doi.org/10.1016/j.msard.2021.102830 

Kozela, E.; Lev, N.; Kaushansky, N.; Eilam, R.; Rimmerman, N.; Levy, R.; … e Vogel, Z. (2011). Cannabidiol inhibits pathogenic T cells, decreases spinal microglial activation and ameliorates multiple sclerosis‐like disease in C57BL/6 mice. British journal of pharmacology, 163 (7), 1507-1519.

Croxford, J. L.; Olson, J. K.; Anger, H. A.; e Miller, S. D. (2005). Initiation and exacerbation of autoimmune demyelination of the central nervous system via virus-induced molecular mimicry: implications for the pathogenesis of multiple sclerosis. Journal of virology, 79 (13), 8581-8590.

Notcutt, W.; Langford, R.; Davies, P.; Ratcliffe, S.; e Potts, R. (2012). A placebo-controlled, parallel-group, randomized withdrawal study of subjects with symptoEM of spasticity due to multiple sclerosis who are receiving long-term Sativex® (nabiximols). Multiple Sclerosis Journal, 18 (2), 219-228.

Leussink VI, Husseini L, Warnke C, Broussalis E, Hartung HP, Kieseier BC. Symptomatic therapy in multiple sclerosis: the role of cannabinoids in treating spasticity. Ther Adv Neurol Disord. 2012 Sep;5(5):255-66. doi: 10.1177/1756285612453972. PMID: 22973422; PMCID: PMC3437528.