Cannabis e estrogênio: como funciona e suas relações

Cannabis e estrogênio: como funciona e suas relações

Postado por Dr. Pedro Alvarenga

Você sabe como a Cannabis e o estrogênio podem beneficiar a saúde da mulher? As variações nos níveis hormonais da mulher são responsáveis por desencadear processos naturais no corpo, como a menstruação. 

No entanto, essas alterações também geram efeitos colaterais que podem ser muito incômodos e interferem diretamente na rotina do dia a dia. A oscilação do estrogênio pode causar alterações de humor inesperadas, por exemplo. 

O sistema endocanabinóide, sendo responsável por regular diversas respostas fisiológicas, é um aliado para controlar as reações indesejadas. 

As sensações de dor e desconforto, assim como as alterações de apetite e humor, podem ser amenizadas equilibrando o sistema endocanabinóides. Existem diversas maneiras de se fazer isso e uma delas é o uso da terapia canabinóides

Neste texto, você vai entender como a cannabis ajuda na produção e regulação do estrogênio e seus efeitos terapêuticos no corpo feminino. Acompanhe a leitura.

Qual a relação entre a cannabis e o estrogênio? 

Os canabinóides encontrados na Cannabis medicinal, como o CBD, THC, CBN, entre outros, se ligam aos receptores naturais que pertencem ao nosso Sistema Endocanabinóide (SE). 

Quando o estrogênio atinge seu nível máximo, o mesmo acontece com os endocanabinóides e vice-versa. 

Um estudo da universidade de Washington com fêmeas de camundongo mostrou que elas eram 30% mais sensíveis aos efeitos do THC do que os machos. 

Segundo os cientistas, a razão seria a maior concentração do estrogênio, o que as tornaria sensíveis ao tetrahidrocanabinol durante a ovulação. Ou seja, os efeitos do THC são mais fortes quando os respectivos níveis hormonais são altos.

Isso explicaria as alterações de humor comuns durante a menopausa, quando os níveis de estrogênio caem drasticamente.

Importância do Sistema Endocanabinóide

O Sistema Endocanabinóide (SE) desempenha um papel importante para a nossa saúde. Afinal, é ele quem ajuda a manter o equilíbrio de várias funções do corpo humano, como fome, sono, humor, imunidade, dor e até a memória. 

Isso acontece, pois os receptores e as substâncias endocanabinoides estão presentes por todos os nossos órgãos e sistemas, executando diferentes tarefas visando a homeostase, que é a capacidade do organismo se manter equilibrado.

Quando os endocanabinóides são estimulados, uma variedade de mecanismos fisiológicos ocorrem para regular o organismo. Até o momento, os principais receptores estudados são o CB1 e o CB2. 

Entre seus efeitos e benefícios, pode-se listar a regulação do apetite, dor, inflamação, pressão intraocular, controle muscular, equilíbrio de energia, metabolismo, qualidade do sono, resposta a estresse, humor, memória e entre outros. 

Quais os impactos da variação nos níveis de estrogênio? 

Infográfico sobre a variação dos níveis de estrogênio na mulher. Imagem ilustrativa texto cannabis e estrogênio
Como a variação dos níveis de estrogênio podem influenciar no dia a dia da mulher

O estrogênio é o hormônio responsável pela manutenção e controle da função reprodutiva feminina e desenvolvimento das características sexuais da mulher, como aumento dos seios e crescimento dos pêlos pubianos.

Sua atuação no metabolismo do corpo feminino vai desde a puberdade, passando pela gravidez até chegar à fase da menopausa. 

Todavia, a sua principal ação acontece durante a vida reprodutiva, em que os estrogênios ajudam a estimular o crescimento do folículo ovariano para que ocorra a ovulação.

O ciclo menstrual começa no primeiro dia da menstruação e termina com o início da próxima. Sua duração completa varia entre 24 e 38 dias, podendo alternar de um mês para o outro, e até mudar entre a primeira menstruação e a menopausa. 

Nesse sentido, tanto o excesso quanto a deficiência de estrogênio impactam no nosso metabolismo. Existem muitos sintomas físicos que podem indicar se os níveis hormonais estão dentro da normalidade.

Veja a seguir como a variação dos níveis de estrogênio podem influenciar no dia a dia, usando um ciclo de 28 dias como exemplo.

Todas essas oscilações de estrogênio e seus sintomas colaterais podem ter como aliado o tratamento com cannabis medicinal.

Cannabis medicinal para auxiliar na TPM e na menopausa

Para as mulheres que sofrem com os sintomas da TPM e da menopausa e não sentem que os tratamentos convencionais têm funcionado, ou mesmo sejam uma opção para elas, podem ver na terapia com cannabis medicinal uma alternativa no tratamento. 

É importante lembrar que nem a TPM e nem a menopausa são doenças, mas sim processos naturais que o corpo feminino passa devido à alterações hormonais. 

Diante disso, o que a cannabis medicinal faz é reequilibrar essas variações, controlando e amenizando os sintomas como fogacho, dores, dificuldades de sono e sintomas ansiosos.

Durante a TPM

A Tensão Pré-Menstrual(TPM) faz parte da vida da maioria das mulheres, que tentam lidar com seus sintomas das mais diversas maneiras. 

O uso de medicamentos à base de ibuprofeno para lidar com as cólicas e dores de cabeça é comum, mas pode causar efeitos colaterais indesejados, como alterações no estômago. 

Deste modo, o uso de produtos à base de Cannabis pode ser uma boa alternativa para passar por este momento com mais tranquilidade. 

Combate a dor e melhora o humor 

Os canabinóides CBD e THC, presentes na planta, têm efeito analgésico e anti-inflamatório, sendo eficazes no combate da dor.

O tetrahidrocanabinol, mais especificamente, também possui ação relaxante muscular que ajuda com as cólicas menstruais, ao aliviar o desconforto das contrações.

As alterações nos níveis de estrogênio durante a TPM também deixam as mulheres com o humor mais deprimido e sensível. 

Os produtos de Cannabis alteram concentrações de neurotransmissores no corpo, como o hormônio do bem estar, além de estimularem o endocanabinóide a produzir anandamida, responsável pela sensação de felicidade. 

Por conta da relação entre a Cannabis e o estrogênio, muitas mulheres têm optado como alternativa aos antidepressivos, analgésicos e medicações sedativas.

Além disso, alterações no apetite também podem ser desencadeadas durante o período pré menstrual. O THC já é conhecido por aumentar o apetite e o prazer em comer, mas estudos avançam que o CBD pode funcionar como um supressor do apetite. 

Sintomas da menopausa 

A menopausa é outra fase que também pode ser bem complicada para a mulher, e normalmente ocorre por volta dos 50 anos de idade, caracterizado pela interrupção dos ciclos menstruais, findando a fase reprodutiva feminina.

Um dos tratamentos para a menopausa é a terapia de reposição hormonal, no entanto, essa modalidade de tratamento pode ter contraindicações. Algumas mulheres podem não ser as candidatas ideais para realizar o tratamento, caso tenham algum histórico de câncer, por exemplo.  

Pesquisas recentes mostram que os produtos à base de cannabis podem ser um grande aliado da mulher durante a menopausa, e já conta com grande aderência do público feminino. 

Um estudo apresentado na Sociedade Norte-Americana de Menopausa descobriu que 27% das mulheres usaram, ou estão usando atualmente, cannabis para controlar os sintomas da menopausa. Outros 10% das entrevistadas disseram que possuem interesse ​​em utilizar essa modalidade de tratamento. 

O tratamento canábico envolve a administração de fitocanabinoides extraídos da planta para recuperar o equilíbrio do Sistema Endocanabinoide, melhorando os sintomas da redução do estrogênio de uma forma não hormonal segura. 

Ondas de calor

Mulher com blusa rosa sobre fundo rosa, com as mãos na barriga. Destaque para a região do útero com rosa escuro.
A cólica menstrual é incômodo para a maioria das mulheres

Dentre os sintomas da menopausa, as ondas de calor tendem a ser mais incômodas. Com a falta do estrogênio, alterações hipotalâmicas ocorrem (local responsável pela regulação térmica do organismo), gerando os sintomas característicos de fogacho.

O cérebro responde liberando hormônios para ajudar a diminuir o calor do corpo, causando um aumento na frequência cardíaca e no fluxo sanguíneo. Esse processo é o que faz com que o corpo transpire na tentativa de reduzir a temperatura.

A administração de canabinóides pode diminuir a produção de calor através da alteração de alguns mediadores neuroquímicos, segundo artigo publicado em 2002. Nesse sentido, pode-se afirmar que o THC tem a capacidade de reduzir e regular a temperatura corporal. 

Alterações de humor

A menopausa também pode causar alterações de humor e, pela falta de estrogênio, nessa fase as mulheres se tornam muito mais propensas a desenvolver depressão. 

Como já mencionamos, o CBD é um estabilizador de humor eficaz e também possui ação antidepressiva. 

Fraqueza dos ossos

Outro sintoma preocupante da menopausa é a perda de densidade óssea. O estrogênio é fundamental para o metabolismo dos ossos, portanto, com a deficiência deste hormônio a mulher se torna mais suscetível a perda de massa óssea.

De acordo com estudo publicado no The Journal of clinical endocrinology and metabolism, os nossos receptores endocanabinóides influenciam diretamente na formação dos ossos. 

Assim, o tratamento com cannabis medicinal pode ser um futuro alvo na abordagem terapêutica de pacientes com baixa massa óssea. 

Vale lembrar que embora os resultados sejam promissores, a realidade é que, como acontece com outros tópicos da cannabis, mais pesquisas são necessárias. 

Também é importante ressaltar a importância de se utilizar produtos de boa procedência e que seguem as orientações da Anvisa. 

Ficou claro a relação entre Cannabis e estrogênio? Então, continue acompanhando o nosso blog e as redes sociais da Ease Labs e siga informado. 

Referências

Washington State University. “O estrogênio aumenta a sensibilidade à cannabis, mostra o estudo.” ScienceDaily. ScienceDaily, 3 de setembro de 2014. <www.sciencedaily.com/releases/2014/09/140903092153.htm>. 

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Wenger, T., & Moldrich, G. (2002). The role of endocannabinoids in the hypothalamic regulation of visceral function. Prostaglandins, leukotrienes, and essential fatty acids, 66(2-3), 301–307. https://doi.org/10.1054/plef.2001.0353