Como identificar um dependente químico? Você precisa de ajuda?

Como identificar um dependente químico? Você precisa de ajuda?

Postado por Dr. Pedro Alvarenga

O dependente químico possui um consumo compulsivo e abusivo de substâncias químicas e, na maioria das vezes, não admite que perdeu o controle da situação e dispõe de uma doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o problema como uma doença crônica, e não como vício ou habituação.

De acordo com o relatório da United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC), cerca de 36 milhões de pessoas no mundo sofrem de transtornos causados pelo uso de drogas. 

A pessoa dependente geralmente apresenta mudanças físicas e comportamentais, além de desenvolver problemas psicológicos e sociais, o que pode causar impactos negativos na sua vida e também na das pessoas ao seu redor. 

Mas como identificar se um dependente químico precisa de ajuda? Para isso é preciso ficar atento aos sinais. Acompanhe a leitura e descubra como. 

O que caracteriza um dependente químico?

Seja com a cerveja do fim de semana, um medicamento para dormir melhor ou mesmo uma droga ilícita usada de forma recreativa. A partir do momento que o indivíduo torna-se incapaz de resistir à tentação de utilizar uma substância, já se torna um motivo de preocupação.

Resumidamente, todos os exemplos anteriores possuem substâncias capazes de desenvolver tolerância, o que faz com que o organismo se adapte ao uso e exija doses cada vez maiores, além de alterar o comportamento da pessoa por consequência. 

É importante destacar que existem diversos níveis de dependência, que variam de acordo com a relação da pessoa com as drogas, frequência de uso, quantidade e até mesmo fatores genéticos. 

Muitas vezes, o usuário acredita que é capaz de parar com o vício assim que desejar, o que na maioria das vezes não é verdade. Mesmo que tenha a consciência de que o consumo é prejudicial, a pessoa não procura ajuda e continua a utilizar a droga. 

No geral, a doença evolui progressivamente por três estágios: o uso, abuso e a dependência. 

  • Uso: é a etapa de experimentação de uma substância, que pode ser de forma esporádica ou rotineira, mas ainda não apresenta malefícios e a pessoa possui o controle de parar quando quiser;
  • Abuso: quando é possível notar prejuízos físicos e psicológicos do usuário relacionados ao uso frequente da droga, como alterações de comportamento e problemas de saúde;
  • Dependência: é o último estágio caracterizado pelo consumo descontrolado da substância.  Neste momento, a pessoa perde o controle da situação, o uso se torna uma compulsão e os problemas de saúde também se agravam. 

Os sintomas da dependência química podem variar de pessoa para pessoa. Conforme o vício avança, é possível notar comportamentos que são justamente os sinais que ajudam a identificar a doença.

No geral, o dependente químico costuma apresentar descuido pessoal, problemas financeiros, isolamento social, mudanças constantes de humor, agressividade, entre outros. Confira: 

Alterações físicas

As alterações físicas são as mais perceptíveis. Com o passar do tempo, o dependente químico deixa de cuidar de si mesmo. Assim, podemos notar: 

  • Alterações rápidas de peso;
  • fala lenta ou alterada;
  • falta de higiene pessoal (tomar banho, escovar dentes, etc); 
  • tremores frequentes; 
  • olhos vermelhos; 
  • pupilas dilatadas;
  • olhar cabisbaixo; 
  • diminuição do apetite; e
  • problemas de saúde.

Mudanças comportamentais

O dependente químico é capaz de deixar tudo de lado para priorizar o uso da droga em sua vida. Isso pode afetar negativamente o comportamento do indivíduo, seja no âmbito familiar ou profissional. Entre elas: 

  • Diminuição da produtividade;
  • mudanças de humor; 
  • faltas frequentes a compromissos sociais ou profissionais;
  • isolamento social e mudanças no círculo de amigos;
  • aumento da agressividade e irritabilidade; 
  • alterações no sono (insônia ou muito sono); 
  • endividamento; 
  • envolvimento em brigas, seja em casa ou na rua; 
  • envolvimento em crimes e roubos; e 
  • mentiras frequentes.

Impactos psicológicos

Por si só, a dependência química pode ser considerada um transtorno mental. Isso ocorre, pois o dependente pode desenvolver problemas psicológicos, diante do impacto direto que as drogas causam na mente do indivíduo.

O abuso das substâncias, inclusive, pode potencializar esses danos. Entre os impactos psicológicos, podemos destacar:

  • Medo, ansiedade e depressão; 
  • mudanças bruscas de personalidades;
  • pensamentos e tendências suicidas;
  • solidão e sentimento de abandono;
  • esquizofrenia, delírios e surtos psicóticos; e 
  • frustração e falta de motivação;

Riscos que podem influenciar a dependência

A dependência química pode afetar qualquer pessoa, independente da sua condição social ou histórico familiar. No entanto, existem alguns fatores que podem aumentar os riscos de um indivíduo ter problemas com drogas. 

No geral, podemos dizer que adolescente, homens adultos e pessoas com histórico familiar de alguma dependência fazem parte de um grupo em que a chance da dependência é relativamente maior. Mas além disso, certas condições biológicas, psicológicas ou sociais podem influenciar no vício. Entenda: 

Convívio social

Pessoas atravessando faixa de pedestre numa cidade movimentada. Imagem ilustrativa texto dependete qumico.
Um dos aspectos que podem influenciar o dependente químico é o convívio com outros usuários.

Estar em meios onde há o consumo de drogas é perigoso. Afinal, conviver com pessoas que são usuárias ou frequentar ambientes propícios, pode facilitar o contato com esses compostos e aproximar o indivíduo do vício.

Além disso, um clima familiar conflituoso pode fazer com que o indivíduo busque uma fuga nas drogas. 

Situações de trauma

Enfrentar uma situação traumática durante a vida também pode levar a pessoa a buscar refúgio no consumo de drogas, como um ‘escape’ da realidade. 

Traumas de infâncias, divórcio, perda de emprego, morte de um ente querido e até o bullying são alguns casos capazes de abalar o e aproximá-lo do uso e abuso de drogas. 

Doenças mentais

Os transtornos mentais podem ser tanto a causa como a consequência para a dependência química. Isso quer dizer que usuários com doenças psiquiátricas preexistentes podem ser gatilhos para o vício em drogas e substâncias, diante da vulnerabilidade da mente. 

Sendo assim, o desequilíbrio mental é considerado um fator de risco para a dependência química. Nestes casos, é imprescindível o apoio e acompanhamento de um especialista, de forma que ambas as doenças sejam controladas.

Vulnerabilidade social

Apesar de qualquer um estar suscetível ao vício, os indivíduos que encontram-se em estado de vulnerabilidade social, como aqueles em situação de rua, estão naturalmente mais expostos ao uso de drogas.

Seja pelo ambiente que estão inseridos ou mesmo pela falta de perspectiva social, sendo considerados agravantes para a dependência química. 

Fatores biológicos

Por fim, fatores genéticos e hereditários podem ter relação com a dependência química. Além da predisposição daqueles que possuem histórico familiar com a doença, a forma como o organismo metaboliza o uso de determinada substância pode influenciar no potencial de uma dependência química. 

Como os familiares ajudam na identificação da dependência

Consulta com psicoterapeuta, onde o médico está fazendo anotações enquanto ouve seu paciente.
O apoio e acompanhamento médico é imprescindível no tratamento do dependente químico.

Quando uma pessoa é diagnosticada com dependência química, é comum que muitas famílias tratem o paciente com desdém e julgamentos. Porém, é preciso lembrar que o dependente possui uma doença como qualquer outra e também precisa de ajuda.

No estágio da dependência, a pessoa não tem mais controle sobre suas próprias decisões, cabendo aos familiares e amigos tomarem as rédeas da situação.

Muitas vezes, o próprio indivíduo dificulta a identificação do problema por meio da negação, sendo necessário ficar atento aos sinais apresentados ao longo do texto.

Diante disso, assim como a busca por ajuda profissional, é essencial o apoio e a empatia dos familiares  para que o dependente possa prosseguir no tratamento ou dar início a um. Afinal, ter uma relação de confiança com alguém auxilia no progresso e evita recaídas. 

Vale destacar que profissionais capacitados, além de acompanhar o tratamento do dependente químico, sabem como auxiliar os familiares a lidar com cada caso da melhor forma possível.

Médicos que vão auxiliar no tratamento

O tratamento de um dependente químico é conduzido por uma equipe multidisciplinar, no qual podem estar envolvidos profissionais da psiquiatria, psicologia, clínico geral e assistente social.

A equipe será responsável pelo diagnóstico, indicação do tratamento adequado e acompanhamento do paciente durante todo o processo, com o objetivo de ajudar o dependente a mudar seu estilo de vida e promover a reabilitação nas áreas: física, mental, social, familiar e profissional. 

Lutar contra o vício é um caminho difícil para todos os envolvidos, mas não é impossível de se vencer. Ao contrário do que muitos pensam, o dependente químico não é uma batalha perdida.

Neste artigo, você entendeu como identificar os sinais de um dependente químico. Se reconheceu em algum deles e sente que está precisando de ajuda? Não hesite em procurar a ajuda de especialistas. Para saber mais, continue acompanhando o nosso blog e redes sociais.

Referências

Schenker, Miriam e Minayo, Maria Cecília de SouzaFatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2005, v. 10, n. 3 [Acessado 8 Abril 2022] , pp. 707-717. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-81232005000300027>. Epub 11 Jun 2007. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/S1413-81232005000300027

Paz, Fernanda Marques e Colossi, Patrícia ManozzoAspectos da dinâmica da família com dependência química. Estudos de Psicologia (Natal) [online]. 2013, v. 18, n. 4 [Acessado 8 Abril 2022] , pp. 551-558. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-294X2013000400002>. Epub 24 Abr 2014. ISSN 1678-4669. https://doi.org/10.1590/S1413-294X2013000400002.