
Epilepsia: descubra as causas, sinais e tratamentos
Postado por Dr. Pedro Alvarenga
A epilepsia é uma das condições neurológicas mais comuns, que acomete aproximadamente uma em cada 100 pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem deste transtorno.
Esse distúrbio no cérebro é responsável pelas crises epilépticas, que podem causar, entrem diferentes sintomas, os mais comuns como desmaios e contrações musculares. Dessa forma, prejudicando a qualidade de vida do paciente.
Porém, a boa notícia é que a epilepsia tem cura e até 70% das pessoas têm sucesso com o controle da doença se seguir o tratamento correto, de acordo com a Associação Brasileira de Epilepsia (ABE).
Neste artigo, você vai entender as causas, sinais e os principais tratamentos para a epilepsia. Acompanhe a leitura.
O que é Epilepsia?
A epilepsia é uma doença neurológica que afeta o Sistema Nervoso Central. Nesse caso, os impulsos elétricos dos neurônios e os sinais químicos cerebrais ocorrem de forma desordenada, sucedendo uma atividade elétrica excessiva.
Isso causa sintomas como convulsões, movimentos descontrolados e até mesmo a perda de consciência. Em outras palavras, é como se fosse um “curto circuito” em nosso cérebro, que acomete os sinais neurológicos.
Cada área do cérebro é responsável por uma função específica por meio da comunicação entre as células nervosas, como garantir os movimentos, fala, emoções, sentidos, entre outros. Por isso, diferentes partes do cérebro podem ser atingidas pelas crises epiléticas.
As crises podem variar entre breves episódios de desatenção e espasmos musculares até mesmo convulsões prolongadas e severas.

Convulsão é sinônimo de epilepsia?
Isso não é verdade, afinal, nem toda convulsão é uma crise epiléptica. Há diferenças que precisamos ficar atentos. Entenda:
- Epilepsia: doença cerebral crônica causada por diversos fatores e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas, que podem ser convulsivas ou não.
- Convulsão: uma manifestação da doença, caracterizada pela contração muscular excessiva ou anormal, surgimento de tremores, salivação excessiva e outros sintomas.
- Crises epilépticas: episódios em que há perturbação no processo de comunicação entre os neurônios, que podem se manifestar desde crises de ausência até mesmo a convulsão.
Vale destacar que para considerar a patologia, a pessoa deverá ter repetição de crises epilépticas mais de duas vezes, separadas por um intervalo de 24 horas. Resumidamente, ela pode ter uma crise epiléptica, mas não ter o diagnóstico de epilepsia.
Causas mais comuns que causam epilepsia
Várias razões estão associadas ao desenvolvimento da epilepsia. Afinal, ela pode ser tanto uma doença em si, ou mesmo um sinal de alerta de que há algo errado com o cérebro.
A epilepsia pode afetar todas as idades, sendo que em adultos as causas tendem a ser por conta de doenças neurológicas e traumatismos. Já em crianças, as razões costumam estar relacionadas ao neurodesenvolvimento, problemas antes ou durante o parto e fatores genéticos.
Por isso, é importante que o médico responsável investigue as causas específicas da epilepsia de cada paciente. No geral, as principais causas são:
- Acidente Vascular Cerebral(AVC);
- traumas e fortes pancadas na cabeça;
- tumores cerebrais;
- traumatismos cranianos;
- malformações cerebrais;
- nascimento prematuro;
- complicações durante o parto (falta de oxigênio no cérebro, paralisia cerebral);
- alterações do metabolismo desde o nascimento;
- malformação congênita (hidrocefalia);
- infecções congênitas (zika, citomegalovirose, toxoplasmose);
- infecções no pós-natal (meningite, encefalite);
- doenças neurológicas (alzheimer);
- abuso de álcool e drogas; e
- predisposição genética.
No entanto, pode acontecer de não ser possível reconhecer os motivos que deram origem ao distúrbio. Apesar disso, vale destacar que independente da causa a epilepsia tem tratamento e quando o paciente fica longos períodos sem crise e sem uso de medicamentos, é considerado curado.
É possível prevenir-se da epilepsia?
Não é possível prevenir que alguém desenvolva epilepsia, apenas evitar gatilhos que desencadeiam as crises convulsivas. É o caso do consumo de bebida alcoólica e ambientes com luzes estroboscópicas e intermitentes, muitas vezes, utilizadas em festas.
Além disso, é indicado que tenha cuidado em alguns aspectos como ao evitar práticas que possam causar traumas na cabeça, não usar medicamentos sem orientação, vacinar-se contra doenças infecciosas e não deixar de realizar exames pré-natal e acompanhamento médico até o momento do parto.
Vale destacar que é imprescindível procurar auxílio médico o quanto antes para investir no tratamento adequado.
Principais tratamentos
O tratamento para epilepsia deve ser indicado por um neurologista e possui o objetivo de reduzir a frequência e a intensidade das crises.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento integral e gratuito, por meio de atendimento médico e medicamentoso, por meio de secretarias municipais e estaduais de saúde e do Ministério da Saúde.
A escolha do tratamento inclui desde o uso de medicamentos até indicação de cirurgia no cérebro, de acordo com a intensidade das crises de cada pessoa. Confira a seguir as principais opções:
Medicamentos antiepilépticos
O principal tratamento para a epilepsia é feito com medicações antiepilépticas que ajudam no controle da atividade cerebral, diminuindo a frequência e a intensidade das convulsões ou evitar novas crises.
Remédios como fenobarbital, ácido valpróico e carbamazepina, são eficazes na maioria dos casos, com a ingestão diária dos medicamentos.
Intervenção cirúrgica
Em casos com crises frequentes e incontroláveis, a intervenção cirúrgica é uma alternativa. São as chamadas epilepsias refratárias, quando o uso de medicamentos não é capaz de reduzir ou controlar as convulsões. Diante disso, o neurocirurgião pode:
- Retirar a parte afetada: desde que não afete o funcionamento global do cérebro;
- Implantação de eletrodos: ajudam a regular os impulsos elétricos, especialmente após o início de uma crise.
Cannabis medicinal
A Cannabis medicinal se destaca como uma opção terapêutica quando os pacientes já não respondem ao tratamento convencional.
Evidências científicas comprovam a eficácia do canabidiol (CBD), substância extraída da Cannabis sativa, no controle das crises epilépticas, ao regular os impulsos elétricos cerebrais.
Sinais que podem indicar Epilepsia

A epilepsia pode se manifestar de diferentes formas, com sinais e sintomas que variam de acordo com a área do cérebro afetada. Diante disso, as crises epilépticas podem ser classificadas em dois tipos:
Crise Focal
A crise focal ou parcial ocorre quando a epilepsia afeta apenas uma área do cérebro, causando sintomas mais leves e que correspondem à parte atingida. Geralmente, o paciente não apresenta perda de consciência, mas pode manifestar outros sinais como:
- Confusão mental;
- sensação de formigamento;
- alterações sensoriais (audição, cheiro e sabor);
- distorção visual (imagem distorcida, alucinação visual, etc);
- perda de foco;
- tontura;
- movimentos bruscos incontroláveis dos braços e pernas;
- tremores;
- realizar movimentos repetitivos, como esfregar as mãos e andar em círculos; e
- distúrbios psicológicos, como ansiedade, angústia, medo e tristeza.
Vale destacar que esse quadro pode ou não evoluir para uma crise generalizada.
Crise Generalizada
Já a crise generalizada é um quadro epiléptico mais grave e ocorre quando a doença se propaga para todo o cérebro, causando sinais mais preocupantes no paciente, como:
- Crise convulsiva;
- perda da consciência;
- crises de ausência — olhar fixo e vago, como se estivesse desligada do mundo;
- rigidez muscular;
- salivação excessiva;
- movimentos bruscos incontroláveis dos braços e pernas;
- adormecimento do músculo;
- espasmos e contrações musculares em todo o corpo;
- incontinência urinária; e
- contrações que podem causar mordida na língua.
O que pode causar as crises epilépticas
Diversos fatores podem desencadear uma crise epiléptica, desde motivos emocionais e comportamentais. Por isso, é importante ficar atento e evitar estímulos que provoquem tais reações.
No geral, os principais gatilhos para as crises epilépticas são: estresse emocional, falta de sono, uso abusivo de álcool e drogas estimulantes (como cocaína, anfetamina e ecstasy), febre alta (principalmente em crianças) e luzes ou/e estímulos visuais piscantes.
Além disso, condições de desequilíbrio metabólico como baixo açúcar no sangue (hipoglicemia), baixa concentração de oxigênio no sangue (hipóxia) e baixo nível de sódio no sangue (hiponatremia) também podem ser responsáveis por desencadear uma crise.
Como agir diante de uma crise epiléptica?
A dica principal é: calma. Muitas pessoas entram em desespero ao presenciar uma crise epiléptica, principalmente as convulsivas. Mas o ideal é manter a calma e seguir as seguintes recomendações:
1. Deite a pessoa no chão e coloque-a de lado
Durante uma crise, é recomendado deitar a pessoa a fim de evitar uma queda mais brusca ao chão. Depois, coloque-a de lado para evitar que ela se engasgue com a própria língua, saliva ou vômito, o que também facilitará sua respiração.
2. Retire objetos próximos
Afaste objetos próximos que possam causar machucar como mesas, cadeiras, e até mesmo objetos pessoais como relógios e óculos.
3. Dê espaço e afrouxe as roupas
Abra espaço e nunca segure a pessoa ou tente restringir seus movimentos. Nesses casos, é preferível deixá-la debater-se. Além disso, afrouxe as roupas, principalmente em volta do pescoço, como camisas e gravatas.
4. Mantenha a calma e espere a crise passar
Fique calmo e permaneça ao lado da pessoa até que ela recupere a consciência. Nesse momento, é importante procurar por uma identificação e se há alguma identificação médica de emergência que possa sugerir a causa da convulsão.
Se a crise durar mais de cinco minutos, peça ajuda médica a uma ambulância (192) ou leve a vítima imediatamente ao pronto socorro mais próximo. Além disso, é importante ficar atento ao que NÃO deve ser feito durante uma crise epiléptica:
- Nunca coloque objetos na boca do paciente durante a convulsão;
- não jogue água;
- não dê tapas no rosto;
- não ofereça bebidas; e
- não medique a vítima após a crise.
É importante destacar que a língua do paciente não enrola durante a crise, sendo desnecessária a atitude de querer desenrolá-la.
Neste artigo, você entendeu melhor sobre a epilepsia, quais as causas, sinais e os principais tipos de tratamento. Continue acompanhando o nosso blog e redes sociais, e mantenha-se informado.
Referências
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