
Esclerose lateral amiotrófica (ELA) e tratamento com Cannabis
Postado por Dr. Pedro Alvarenga
A esclerose lateral amiotrófica, também conhecida como ELA, é uma doença degenerativa rara que compromete o sistema nervoso motor e afeta duas em cada cem mil pessoas no mundo, segundo Ministério da Saúde.
Infelizmente, ainda não há cura, mas o tratamento é feito com objetivo de controlar o progresso da doença e seus sintomas, seja por meio de medicamentos, fisioterapia ou até mesmo com uso da Cannabis medicinal.
Por ser uma doença considerada rara e com difícil diagnóstico, é muito importante saber reconhecê-la para orientar a família e o paciente sobre como lidar com a doença.
Neste artigo, você vai descobrir os sintomas da esclerose lateral amiotrófica, assim como a importância do início precoce do tratamento para a qualidade de vida do paciente. Acompanhe a leitura.
O que é a esclerose lateral amiotrófica?

A esclerose lateral amiotrófica é uma doença neurodegenerativa que atinge os neurônios motores do cérebro e da medula espinhal de forma progressiva. Como resultado, as funções físicas do paciente são afetadas, já que os músculos se deterioram, enfraquecem e deixam de funcionar normalmente.
Isso acontece, pois mover um músculo implica em uma comunicação entre o músculo e o cérebro por meio dos nervos.
No caso da ELA, os neurônios vão perdendo a capacidade de enviar e captar impulsos elétricos para o resto do organismo, que servem como comandos para desempenhar as mais diversas funções, como os movimentos.
A doença é marcada principalmente pela alteração do tônus muscular e consequentemente sua atrofia, impossibilitando o paciente de locomover-se, mover braços e pernas, comunicar-se e até mesmo respirar sem a ajuda de aparelhos.
A atrofia dos músculos pulmonares, inclusive, é a principal causa da morte dos portadores do ELA. Até então, não se conhece uma causa específica para a esclerose lateral amiotrófica.
O surgimento dos sintomas depende da área do cérebro afetada, mas a fraqueza muscular pode afetar qualquer parte do corpo, como rosto, membros, língua e até mesmo garganta e diafragma.
Quais os sintomas que ELA apresenta?
Os sintomas da ELA são difíceis de se identificar inicialmente, mas conforme o quadro do paciente se agrava, os sinais tornam-se mais evidentes.
O principal sintoma o próprio nome já nos diz: é o endurecimento dos músculos (esclerose), inicialmente num dos lados do corpo (lateral) e atrofia muscular (amiotrófica). Além disso, podemos destacar:
- Fraqueza muscular;
- atrofia muscular;
- cãibras;
- tremor muscular;
- espasmos;
- perda da capacidade de cuidar de si mesmo;
- depressão;
- perda de sensibilidade;
- perda de peso e massa muscular;
- problemas de coordenação motora;
- dificuldade para engolir e respirar; e
- fala mais lenta e arrastada.
Como a ELA afeta apenas os neurônios motores, não há comprometimento intelectual ou cognitivo. A pessoa também não sente dor, ou sente muito pouca, assim como mantém os sentidos (visão, olfato, paladar, audição e tato), o controle da urina e fezes, o movimento dos olhos e a função sexual.
A progressão da doença pode ser lenta ou mais rápida, a depender de cada caso. No geral, ela começa em uma parte do corpo e vai se ‘espalhando’ para as demais.
Com a evolução, a esclerose lateral amiotrófica pode trazer complicações que, inclusive, podem levar à morte, como é o caso da insuficiência pulmonar e a pneumonia.
Fatores que podem causar a Esclerose lateral amiotrófica
Como mencionamos, as causas para a esclerose lateral amiotrófica ainda não são totalmente esclarecidas. Mesmo assim, podemos destacar alguns fatores de risco para a doença: idade e histórico familiar.
A ELA é mais comum entre os homens e geralmente acomete pessoas de 50 a 70 anos de idade, sendo rara a ocorrência em jovens. Além disso, estima-se que até 10% dos casos tenham causas hereditárias.
Estudos ainda apontam que o hábito do tabagismo quase dobra o risco das pessoas desenvolverem a doença. Pacientes fumantes costumam apresentar uma forma mais agressiva da esclerose lateral amiotrófica.
Como a ELA afeta a vida do paciente?

Quem convive com a ELA, perde progressivamente a capacidade funcional e de cuidar de si mesma. Nos casos mais avançados, a pessoa fica paralisada e seus músculos atrofiam, ficando menores e mais finos.
Embora seja uma doença degenerativa irreversível, não há como fazer prognósticos. Após os primeiros sintomas, o paciente tem, em média, uma sobrevida de três a cinco anos, dependendo do avanço da doença.
Mas existem casos em que a pessoa vive muitos anos e bem. Cerca de 25% dos pacientes sobrevivem por mais de cinco anos depois do diagnóstico. É a história do físico Stephen Hawking que viveu com a doença por mais de 50 anos.
Diante disso, o diagnóstico precoce e o início do tratamento são fundamentais para retardar a evolução da doença, impedir complicações e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Difícil diagnóstico
O diagnóstico da esclerose lateral amiotrófica é um dos maiores desafios, apesar de ser extremamente importante para o paciente.
Pela sua progressão lenta e sintomas semelhantes a outras doenças neurológicas, o diagnóstico de ELA é difícil de ser realizado, demandando diversos exames e visitas médicas para excluir a possibilidade de outros quadros clínicos.
Para isso, é preciso contar com a avaliação e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, que inclui neurologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e outros. Devem ser analisados o histórico familiar, exames físicos, de neuroimagem e exames laboratoriais.
No caso, a ressonância magnética pode descartar a chance de o paciente ter miastenia grave, outra enfermidade que causa fraqueza muscular.
Para avaliar a função elétrica dos músculos, o médico pode solicitar a realização de biópsia muscular e eletromiografia, além de exames complementares como testes respiratórios, exame de sangue e punção lombar.
Tratamento convencional
Como já mencionamos, não existe cura para a esclerose lateral amiotrófica e o tratamento consiste em desacelerar o progresso do quadro e controlar os sintomas.
Por afetar a mobilidade, é necessário que o tratamento seja realizado de forma interdisciplinar, incluindo fisioterapia, acompanhamento com fonoaudiólogo e nutricionista.
O uso de medicamentos funciona como paliativo para ajudar a melhorar a qualidade de vida e a redução do desconforto das dores causadas pela degeneração dos músculos.
Em casos mais avançados, pode ser necessário a reabilitação, uso de órteses, cadeira de rodas ou outras medidas ortopédicas a fim de fortalecer a função muscular.
É importante destacar que é imprescindível seguir as orientações médicas e o tratamento indicado, além de contar com apoio psicológico para o paciente e seus familiares para aprender a lidar com a ELA.
A Cannabis medicinal pode auxiliar o tratamento do ELA
Para aqueles que sofrem com a esclerose lateral amiotrófica, produtos à base de cannabis sativa podem ajudar tanto no sistema neurológico, quanto no controle dos sintomas e qualidade de vida.
Há estudos apontam que a Cannabis tem efeitos comprovados para auxiliar no tratamento, diante das características antioxidantes, anti-inflamatórias e de neuroproteção da planta.
A ELA acontece devido aos resíduos gerados pelo funcionamento dos neurônios motores, que se acumulam nas células ao invés de serem eliminados por uma enzima chamada superóxido dismutase. Quando esses resíduos não são eliminados, acabam danificando o DNA do neurônio motor gravemente.
O Canabidiol (CBD), age por conta de sua função antioxidante auxiliando a enzima a reduzir a quantidade de resíduos acumulados nas células. Outro efeito importante da Cannabis medicinal para os pacientes com esclerose lateral amiotrófica é a sua ação analgésica e relaxante muscular.
Como os principais sintomas da ELA são a fraqueza, o enrijecimento e a atrofia muscular, esse efeito proporcionado pelo uso da Cannabis pode proporcionar grande alívio e melhorar o dia a dia do paciente.
A depressão e a perda de peso são outros sintomas paralelos que a ELA pode causar por conta da condição geral do quadro e da dificuldade em engolir. Isso ocorre, pois a Cannabis também possui efeitos antidepressivos e pode ajudar a regular o apetite.
Consulte seu médico sobre o uso do CBD
Como vimos ao longo do texto, o uso medicinal da Cannabis é uma solução paliativa e com objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente, assim como os demais tratamentos para ELA.
Diante disso, a Cannabis deve ser usada em uma abordagem multidisciplinar para que o paciente tenha melhor proveito.
Então, se você possui interesse na terapia canabinoide, é preciso consultar um médico prescritor. Ele será responsável por indicar qual o produto ideal e a dosagem, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.
Neste artigo, você entendeu como é o processo do diagnóstico ao tratamento da esclerose lateral amiotrófica. Para saber mais, acompanhe o nosso blog e redes sociais para se manter atualizado sobre o assunto.
Referências
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