
Descubra o que é esquizofrenia, suas características, sintomas e tratamentos
Postado por Dr. Pedro Alvarenga
Entender o que é esquizofrenia é fundamental para lidar com a doença, do diagnóstico até o tratamento. Afinal, mais de duas em cada três pessoas com sintomas de psicose não recebem atendimento adequado em saúde mental.
Caracterizada como uma doença psiquiátrica, o indivíduo tende a perder o contato com a realidade, sofrendo com delírios e alucinações que, muitas vezes, são vistos com estigma social.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a esquizofrenia acomete mais de 20 milhões de pessoas no mundo, representando quase 1% da população mundial.
Quer entender mais sobre o assunto? Neste artigo, você vai descobrir mais sobre a patologia, assim como suas características, sintomas e tratamentos. Acompanhe a leitura.
O que é esquizofrenia?
Caracterizada como um transtorno psiquiátrico grave e crônico, a esquizofrenia afeta o funcionamento do cérebro, provocando alterações na capacidade da pessoa pensar, sentir e se comportar.
No geral, pacientes esquizofrênicos sofrem uma dissociação da realidade, que pode provocar sintomas como alucinações, delírios, dificuldades no raciocínio, pensamentos confusos e até mesmo isolamento social. Sintomas, esses, que podem ser incapacitantes se não tratados precocemente.
De acordo com a OMS, a esquizofrenia é um dos principais motivos de redução da qualidade de vida em jovens e adultos.
Sintomas da esquizofrenia
A esquizofrenia pode se manifestar de diversas formas, não havendo um específico. Os principais sinais são classificados como sintomas positivos e sintomas negativos. No grupo de sintomas positivos, podemos destacar:
- Delírios;
- alucinações como ouvir vozes e ter visões;
- pensamento desorganizado;
- movimentos descoordenados e involuntários;
- alterações de comportamento (surtos psicóticos, agressividade, agitação e risco de sucídio);
- falta de atenção e concentração; e
- alterações na memória e dificuldades no aprendizado;
Já os sintomas negativos são aqueles que apresentam alterações de ordem emocional, como:
- Perda da capacidade de expressar sentimentos;
- apatia;
- perda de vontade ou iniciativa;
- isolamento social; e
- falta de autocuidado.

Os tipos de esquizofrenia que existem
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), a esquizofrenia pode ser classificada em até seis tipos, que variam de acordo com a manifestação dos sintomas.
São eles: a esquizofrenia simples; paranoide; desorganizada; catatônica; residual; e indiferenciada. A seguir, você vai entender o que é cada tipo de esquizofrenia.
Esquizofrenia simples
A mudança de personalidade e isolamento social estão entre os sintomas mais característicos de quem sofre com a esquizofrenia simples.
O paciente, na maioria das vezes, prefere deixar as relações afetivas de lado, demonstrando apatia e tristeza em seu dia a dia. Nesta condição, estes sintomas costumam ser mais frequentes do que as alucinações e delírios.
É comum o diagnostico da esquizofrenia simples seja inicialmente confundido com depressão, uma vez que apresentam sintomas similares, antes dos demais se manifestarem.
Esquizofrenia paranoide ou paranoica
O paciente que sofre com a esquizofrenia paranoide, ou ‘paranoica’, possui o predomínio de alucinações auditivas e delírios entre os sintomas. Ouvir vozes e a sensação de perseguição são as principais manifestações da doença nesta condição.
Normalmente, as alucinações e delírios dizem respeito a um mesmo tema e se mantêm consistentes com o decorrer do tempo. O desinteresse social, falas e escritas confusas, mudanças de personalidade e humor também são outros sintomas que podem se manifestar.
Apesar disso, o paciente nem sempre possui dificuldades em manter sua rotina e relacionamentos sociais. Isso porque este tipo de esquizofrenia costuma se manifestar mais tarde, depois que a pessoa já estabeleceu relações pessoais e profissionais.
Desorganizada ou ‘hebefrênica’
A esquizofrenia desorganizada pode causar problemas cognitivos, provocando o mau funcionamento executivo e disfunção da memória de trabalho.
Quem sofre desta condição costuma ter dificuldade em seguir processos, expressar sentimentos e comunicar-se, com pensamentos e falas sem sentido.
São emocionalmente instáveis, e podem apresentar um comportamento infantil, com reações inadequadas em diversas situações.
Além de ser comum a presença do isolamento social e a perda da capacidade de realizar atividades cotidianas, como arrumar e limpar a casa, escovar os dentes, arrumar a cama, entre outros.
Esquizofrenia catatônica
A esquizofrenia catatônica se caracteriza pela atividade motora reduzida, havendo lentos ou até mesmo a paralisia do corpo — chamado de “estado de catatonia”. Neste caso, o paciente pode passar horas a dias parado na mesma posição, sem falar ou com fala reduzida.
Outros sintomas associados à esquizofrenia catatônica são o hábito de repetição de falas e movimentos de outra pessoa, olhar fixo, e a realização de caretas.
É o tipo mais raro do quadro de esquizofrenia e com o tratamento mais difícil, que envolve um alto risco de complicações, como a desnutrição ou autoagressão durante o processo.
Esquizofrenia residual
É o tipo de esquizofrenia que os sintomas se manifestam de forma mais leve, como resquícios de fases anteriores da doença.
Mesmo assim, o paciente diagnosticado com esquizofrenia residual pode apresentar sintomas isolados, como falta de autocuidado, alterações no comportamento, das emoções e no convívio social.
Esquizofrenia indiferenciada

Pacientes com sintomas inespecíficos e que não se enquadram em nenhum dos tipos de esquizofrenia citados acima, são classificados como “esquizofrênico indiferenciado”. Nesses casos, a intensidade e frequência dos sintomas causam incerteza no diagnóstico da doença.
No entanto, isso não impede que a esquizofrenia indiferenciada possa sofrer evolução do quadro e, assim, se encaixar posteriormente em outra categoria.
O que leva uma pessoa a ter esquizofrenia?
Até o momento, não há uma definição exata de quais são as causas da esquizofrenia. Mas evidências apontam que um desequilíbrio químico dos neurotransmissores, substância responsável pela comunicação entre os neurônios, como a dopamina, pode estar relacionado ao desenvolvimento da doença.
Isso acontece pois a pessoa com esquizofrenia passa a produzir uma maior quantidade de dopamina na região frontal do cérebro.
O que consequentemente também afete outras regiões, que também passam a funcionar em desequilíbrio. É por isso que sintomas como alucinações e delírios são comuns em pacientes esquizofrênicos.
Estudos realizados pelo Laboratório Interdisciplinar Neurociências Clínicas (LiNC) em parceria com o Programa de Esquizofrenia (PROESQ) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), apontaram alguns pontos.
Primeiramente, a esquizofrenia é um distúrbio do neurodesenvolvimento, resultante do desequilíbrio químico e demais alterações nos circuitos cerebrais que ocorrem no início do desenvolvimento do Sistema Nervoso Central. Com isso, podemos destacar alguns fatores de risco para a doença, como:
- Histórico familiar;
- doenças autoimunes;
- fatores biológicos, psicológicos e sociais;
- complicações na gravidez ou no nascimento; e
- dependência química.
Todas as fases da esquizofrenia
Podemos dizer que todo paciente com esquizofrenia passa pelas seguintes fases da doença: pré-mórbida, prodrômica, progressão e estabilização. Entenda cada uma delas a seguir:
Fase pré-mórbida
A primeira fase, denominada fase pré-mórbida, é quando o paciente começa a sentir os sintomas da doença.
No geral, é caracterizada pela baixa sociabilidade, ansiedade social e alterações cognitivas, memória verbal, atenção, concentração, entre outros.
Fase prodrômica
É o período em que há a sensação de que algo está prestes a acontecer. Diante disso, o paciente muda o seu comportamento, com agravamento do isolamento social e início dos sintomas psicóticos de forma breve e transitória.
Fase da progressão
A doença, então, evolui para uma fase mais aguda e ativa, em que os sintomas positivos da esquizofrenia aparecem com mais intensidade.
É aqui na fase da progressão que costuma acontecer o primeiro surto psicótico, que incluem alucinações, delírios, pensamento e linguagem desorganizados, entre outros.
Fase de estabilização
A fase de estabilização da esquizofrenia acontece quando os sintomas psicóticos começam a diminuir de intensidade, diante de um resultado satisfatório com o tratamento. Neste estágio, o objetivo é evitar recaídas e melhorar os sintomas ainda presentes.
Esquizofrenia é hereditária?

Apesar do fator hereditário não ser determinante, pessoas que possuem familiares de primeiro grau portadores da doença têm uma maior propensão a desenvolver a esquizofrenia. Sendo, assim, considerado o fator de risco mais significativo.
No entanto, nem todas as pessoas que possuem um parente com esquizofrenia desenvolverá o transtorno. Mesmo assim, é importante ter atenção redobrada nesses casos.
Conheça as limitações causadas pela Esquizofrenia
As limitações causadas pela esquizofrenia podem variar conforme a gravidade da doença e das próprias características da pessoa.
Para além de todas as consequências citadas ao longo do texto, os sintomas da esquizofrenia são capazes de afetar a vida pessoal, familiar, social, educacional e profissional de quem sofre com a doença.
Afinal, trata-se de um transtorno mental que afeta o modo como a pessoa pensa, age, sente e se comporta socialmente, em níveis e contextos diferentes.
É comum que o paciente esquizofrênico apresente um comportamento impróprio, com tendência a se isolar, descuidando de sua aparência e higiene, além de demonstrar atitudes agressivas. O que é responsável por agravar a exclusão social e impactar suas relações com outras pessoas.
Por isso, pessoas com esquizofrenia, muitas vezes, sofrem com a discriminação e violações de direitos humanos, por conta do estigma que a doença possui na sociedade, limitando acesso a cuidados gerais de saúde, educação, moradia e emprego.
Assim, quanto mais precoce é a descoberta da esquizofrenia, menores são as chances do quadro se agravar e prejudicar a vida do paciente.
Tratamento para esquizofrenia
As decisões a respeito do tratamento para esquizofrenia devem ser tomadas por uma equipe multidisciplinar, que serão guiadas por dados médicos, psicológicos e psicossociais do paciente. No geral, o tratamento é focado em aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida da pessoa.
Para isso, o médico responsável pode recomendar medicamentos antipsicóticos, que serão responsáveis por diminuir os sintomas positivos e prevenir recaídas.
A psicoterapia e técnicas comportamentais também ajudam na reabilitação e integração social do paciente. Assim como o uso da Cannabis medicinal, que tem se mostrado eficaz como tratamento complementar da doença.
Vale destacar que por se tratar de um transtorno incapacitante e que pode acarretar em graves problemas sociais, o paciente esquizofrênico necessita de acompanhamento e vigilância durante todo tratamento.
Lembrando que não se deve negligenciar nenhum tipo de atendimento médico a uma pessoa com esquizofrenia.
Por fim, é importante ficar atento aos sinais para saber a hora de buscar ajuda de um profissional para a sua saúde mental.
Deu para entender o que é esquizofrenia? Então, continue acompanhando nosso conteúdo no blog e nas redes sociais.
Referências
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